quarta-feira, 22 de agosto de 2012

22/08

Assunta é mulher que você chamaria de "comum". Chamaria, porque você assim como eu, na sua pressa, apenas pode ver o que se apresenta rápido diante dos teus olhos. Nada mais.
Então, assim de cara você veria uma mulher comum, de incomuns e profundos olhos verdes.
É que ela é como tantas outras: comumente especial.
Dizemos "comum"aquilo que não sobressai de imediato, não salta aos olhos. E frequentemente erramos confundindo o comum com desinteressante ou menos valioso.

Assunta é mulher "comum"que discute política, ama futebol e é a fã mais impiedosa do seu time do coração. É noveleira e religiosa. Assunta é mulher "comum", não é santa. Nem quer. Trabalhou em lavoura, em hospital e em salão de beleza. Assunta é costureira de mão cheia e acredita, como aquelas que vieram antes dela, que costura não é dom, é sina. É perfeccionista, o mais ou menos não lhe serve. Talvez sua característica mais comum seja que ela, como nós todas, se sente culpada boa parte do tempo. Assunta voltou pra escola adulta, terminou o segundo grau estudando a noite, trabalhando de dia e criando dois filhos. Muito antes disso, nos anos setenta, casou-se com um lindo vestido curto e vermelho. Mais que orgulho das origens, Assunta tem é saudade daqueles tempos e daquelas gentes. Assunta não gosta de cores neutras e tons pastéis. Ama flores, todas. Sabe o valor de tudo e é louca por uma pechincha. Quase que numa ironia da vida, ensina hoje outras mulheres a fazer e consertar brinquedos e doá-los. Brinquedos que também não teve.

Assunta é mulher comum. Assunta é como todas nós. Se você detiver o olhar mais um minuto, se perceber o riso discreto no cantinho da boca vai ver a menina de pés descalços fazendo de balanço a folha da palmeira, mãozinhas segurando firme, cabelinho fino voando. Tá ali ó, é minha mãe. É também um pouco de mim. Seu nome é Assunta.