terça-feira, 10 de abril de 2012

Cérebro: pecado é ter e não usar

Tô no estacionamento do supermercado, compras para o almoço garantidas, fazendo hora para pegar Marina no balet, otimizando o pouco tempo que tenho.
E pensando. Viajando na constatação da baita sorte que envolve esse quadro. Por traz dele a mensagem: a Marina está aí, e tem saúde para o balet (saúde perfeita na verdade) e, de quebra posso proporcionar esse tipo de desenvolvimento a ela, do jeito que sonhei que seria (pronto, rolou primeira lágrima): com dança, musicalização, etc.
Você pode argumentar que não se trata de sorte. É o que? Merecimento pelo meu grande esforço? Em parte  talvez. Fui escolhida? Então alguns (gente boa e esforçada) são escolhidos para os piores sofrimentos e privações? Sacanagem.
Não quero desmerecer tua crença e posso estar muito errada. Então sobre isso, paro aqui.
Porque minha verdadeira (e bem mais importante no momento) dúvida é: por que é tão difícil se colocar no lugar dos outros? Por que a dor que toca a nossa carne é que é mesmo insuportável? As outras dores são relativas, variáveis, suportáveis e condicionadas aos atos de seus possuidores.
Por que antes dos julgamentos todos não é automático em nós o seguinte raciocínio: como é estar ali? Como é viver dentro daquele corpo, com aquela forma, com aquele código ético, naquele tempo espaço. Quais as condições de ação quando se está ali e não aqui.

(Pausa. Pegar Marina. Já volto.
Em casa. Quinze minutos restantes pra essas linhas.)

Se esses questionamentos fossem um reflexo nosso diante do desconhecido, algumas polêmicas nos seriam poupadas e o que é melhor, pessoas sofreriam menos. Muito menos.

Especificamente, falo sobre a polêmica gerada sobre se a mãe de um feto anencefálico (sem cérebro) tem o direto (DI-REI-TO) de interromper sua gestação.
Não se trata do que você pensa que seja a conduta mais adequada, ou do que sua religião permite ou não. Falamos de direito. Falamos de uma mulher poder tomar por si a decisão mais difícil da vida dela, sem ter de responder por isso no judiciário.

Eu sei que você acha que só deus pode tirar uma vida e que seu conceito de vida não tem absolutamente nada a ver com o meu. Mas olha, seguindo tua lógica, deus nos deu (a nós, escolhidos) um cérebro, para pensar, para refletir sobre o bom e o justo. Nosso cérebro humano, esse danado, raciocina. E graças a esta condição, sofremos, imensamente as vezes. A Mel (minha cachorrinha) sente dor se é maltratada, mas ela não é capaz de refletir sobre aquela dor, sobre o que a causou, sobre quem a provocou, sobre a gravidade da situação que ela representa. Acredite, em se falando de dor, Mel levou vantagem.
Mas uma mulher que descobre que carrega no ventre um filho que não vai amamentar, que não vai viver com ela mais que algumas horas é capaz de pensar sobre isso. E se ela decidir que vai viver isso até o fim, que quer olhar no rosto do seu bebê ao menos uma vez, muito bem. Agora, se ela se mostrar incapaz de lidar com aquilo, se ela achar que nem ela, nem sua família devem passar por este martírio, é você que vai argumentar/decidir que ela deve? Como?

Não tenho mais tempo, hora de pegar o Carlos na aula  e improvisar um almoço. Perdoem os erros todos.

Deixo vocês com essa música que ouvi no mercado pela manhã e que me inspirou a escrever. Chorei muito nesse filme, como a maioria. A princípio não tem mesmo nada a ver com o tema. Mas fala de uma dor muito solitária. Enfim, digam vocês.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Trinta e nove voltas em torno do sol (completas)

Tá, eu adoro fazer aniversário. Adoro a chance da pequena retrospectiva do ano. Adoro os abraços, as palavras, os presentes e os carinhos todos.
Há quem não goste. Há quem diga que é deprimente contar o tempo que resta assim, quase que numa contagem regressiva para o fim. Enfim...

A verdade é que só não faz aniversário, só não ganha ruguinhas e novos cabelos brancos quem fica pelo caminho. Não, obrigada.

Deixo de presente, em retribuição a tanto afeto, essa linda canção que diz muito ( se não tudo) do que eu penso sobre o correr dos dias.

"ser novo pra mim é algo velho..."




Não vou lamentar
a mudança que o tempo traz, não
o que já ficou para trás
e o tempo a passar sem parar jamais
já fui novo, sim
de novo, não
ser novo pra mim é algo velho
quero crescer
quero viver o que é novo, sim
o que eu quero assim
é ser velho.
Envelhecer
certamente com a mente sã
me renovando
dia a dia, a cada manhã
Tendo prazer
me mantendo com o corpo são
eis o meu lema
meu emblema, eis o meu refrão
Mas não vou dar fim
jamais ao menino em mim
e nem dar de, não mais me maravilhar
diante do mar e do céu da vida
e ser todo ser, e reviver
a cada clamor de amor e sexo
perto de ser um Deus
e certo de ser mortal
de ser animal
e ser homem
Tendo prazer
me mantendo com o corpo são
eis o meu lema
meu emblema, eis o meu refrão
Eis o meu lema
meu emblema, eis minha oração
Eis o meu lema
meu emblema, eis minha oração

Lema - Ney Matogrosso para o show Inclassificáveis

terça-feira, 3 de abril de 2012

trinta e nove voltas em torno do sol (parte II)

Esse devia ser um texto para homenagear minhas amigas. Todas elas. As que ficaram apesar da vida. Aquelas em quem um pouco de mim também permaneceu. Desde aquela com quem eu pulava elástico depois da aula até aquela que ainda ontem finalizou um email bobo e sem importância com "eu te amo. muito. sempre."
Mas não saiu. Não foi. Não rolou. Ficou muito ruim, mais piegas que de costume. Indigno delas.

O que eu queria dizer é que nessas trinta e nove primeiras voltas em torno do sol foi uma baita sorte encontrá-las e caminhar, ser arrastada, correr, chorar e gargalhar ao lado delas.
Queria que elas todas soubessem (caso ainda não saibam) que houve dias que só consegui suportar porque contava com seu carinho e que cada gargalhada sonora que demos juntas ainda ecoa na minha memória me fazendo vez ou outra rir de novo. Queria ter dito que está tudo bem, que eu sei que elas ainda estão lá. Queria perguntar também se tudo bem mesmo? Se elas entendem a ausência, os esquecimentos todos.
O que eu pretendia resumir educadamente em algumas linhas é que gurias, vocês são foda. mesmo. Que este passeio pelo mundo não teria metade da graça quem tem sem a nossa cumplicidade passada, presente e futura. E que eu estou aqui, ok?!

Algumas estão aí em fotos, pra homenagear as outras.











segunda-feira, 2 de abril de 2012

dica

Olha só... Quando vc diz que "não tem nada contra gays, mas que há lugar e hora pra tudo", você está dizendo que admite que eles possam existir contanto que não se comportem como tal, exceto em suas casas. Este comentário não faz de você "um cara legal e  compreensivo". Uma dica: ADMITIR a existência de outras orientações sexuais que não a sua, não te compete.

Dizer que alguém pode fazer o que quiser na cama, mas não tem nada que ficar "dando pinta em público" não te dá pulseirinha vip para o século XXI, meu caro, e nada mais é que negar o direito de alguém de falar com a própria voz, mover-se com seus trejeitos característicos, vestir-se segundo seu gosto pessoal e manifestar seu afeto publicamente. E se direitos assim tão elementares fossem retirados de ti?

Fico pensando o que realmente te incomoda. Suspeito que você ande se sentindo meio acuado, vendo o mundo girar nessa velocidade e cada vez menos gente fazendo eco da tua fala. Sinto uma pena que não consigo controlar quando você, em desespero de causa aponta pra alguém com idade mental muito superior a tua e diz sem corar: "veja bem, há crianças aqui. É preciso ter bom senso".

Eu poderia tentar aliviar teu coraçãozinho tão sinceramente preocupado com o futuro do mundo e te contar em primeira mão que crianças não aprendem homossexualismo e que são na verdade mais preparadas pra lidar com isso que você, mas sabe, a verdade, a verdade mesmo é que você e sua conversinha me dão além da pena e de um pouco de enjoo, uma preguiça medonha.