quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Das simplificações que deturpam

"A mesma coisa" não existe. Foi minha militância política sobretudo que me ensinou: "mesma coisa" não existe. Sobretudo falando de política, de projetos políticos e suas consequências a que se ter muito cuidado com generalizações dessa ordem.
No caso das eleições americanas, ouvi e li nos últimos dias muitas pessoas que, desencantadas com a agressiva e imperialista política externa americana, estufam o peito para dizer que esta é uma eleição de iguais, em que tanto faz e nada muda. Comentários até certo ponto justificáveis e em nada nocivos, a menos é claro que saiam da cabeça (e da boca) de quem presumidamente precisa apresentar um grau a mais de elaboração política.
Óbvio ululante dizer que Obama decepcionou até mesmo que esperava pouco dele. Argumentar que também ele tem as mãos sujas do sangue do povo palestino e que continua impingindo à Cuba o pior, o mais desumano bloqueio econômico da história do mundo é sim pertinente. Muito certo. E são sim dados relevantes. Mas nosso raciocínio precisa ir além. Trata-se de um presidente americano, presidente da maior e mais opressora força econômica do mundo. Pior que isso, presidente de uma superpotência ameaçada, acuada por uma crise de grandes dimensões. Presidente de uma superpotência intervencionista, em crise e que governou e vai seguir governando com fortíssima oposição congressual. Só isso já diz bastante sobre a política externa de Obama.
No entanto, dizer que por conta de seguir com política externa semelhante a seu antecessor republicano faz o governo de Obama ter igual significado que seu antecessor , ou pior, igual ao que teria a eleição do mórmon de ultradireita Mitt Romney, é como dizer que como a política de Dilma em relação ao funcionalismo público federal é mais perversa que a de FHC (e tem sido) seriam estes também, governos que se equivalem. Percebem? Reducionismo. 
Obama foi eleito (e reeleito) majoritariamente com os votos de mulheres, negros, gays e latinos. Ou seja, a fatia mais oprimida daquele país. Não por acaso, os que externam maior dificuldade em enxergar as diferenças entre republicanos e democratas são em regra homens, brancos e presumidamente heterossexuais. É dos dois, quem defende políticas sociais de defesa de seu povo na área da saúde e da geração de empregos.
Mitt Romney não é apenas republicano (republicanos que defendem historicamente intervenção mínima na criação dos postos de trabalho, diminuição de impostos para os mais ricos e que classificam investimentos sociais como "gastos públicos"), é um republicano do Tea Party, setor ainda mais a direita dentro do partido republicano, setor xenófobo que sustenta posições dignas do século XVIII. Quem assistiu aos debates ouviu de Mitt pérolas como: a ideia não é expulsar ninguém do país, mas tornar a vida deles por aqui absolutamente impossível. Se não houver trabalho e saúde para eles, irão embora. 
Desnecessário lembrar que pela importância política e econômica, todas as posições exaladas lá acabam influenciando as políticas para mulheres, negros, e minorias no mundo inteiro, para o bem ou para o mal.
Criticar a polarização entre democratas e republicanos também me parece um argumento ingênuo e frágil. Embora haja polarização existem lá vários outros partidos. Além disso, a quantidade de partidos não guarda relação com autêntica democracia. Esta é apenas uma das bobagens da grande mídia repetida á exaustão e que é comprada por muita gente boa como grande verdade.
Enfim, pouco muda, mas não esqueçamos, amigos, quando falamos de mudança, de garantida de direitos e de resistência, "pouco" é muito diferente de "nada".
Citando a tweet da Manuela D`Ávila comentando o discurso da vitória: "não é o principal, mas importante. Obama diz que independente de ser gay, negro ou mulher nos EUA se tem direitos. Falar é reconhecer."

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Aloha!


Esperando ansiosamente pelo verão. Saco meio cheio de 2012 já. E vocês?

Pessoa absolutamente insignificante (pra mim, óbvio) relata que decepcionou-se profundamente com minha intransigência durante o processo eleitoral. Algo como: "eu te achava tão massa, falando aquele monte de bobagem no blog, com aquela rede amarela na sacada, com aquelas fotos dos filhotes, aquele marido rasta... Daí cê vai lá e diz que dinheiro da prefeitura tem dono e o dono não é o prefeito, eu argumento que sempre fizeram assim e tu diz que não interessa e  que TÁ ERRADO? Porra, e eu admirava tanto tua urbanidade. Custava arrumar uma saidinha pela tangente, dizer que não era bem assim, que cada caso é um caso, que a eleição vai e as "amizades" ficam? tu não sabe que nessas situações a postura que sustenta frágeis relações como a nossa é a de um (fingido) distanciamento da política, ainda que se saiba muito bem o que se pensa? Que merda, hein?! Tô decepcionada contigo, viu. Sou capaz de te bloquear do Face. Não duvide."

Querida criaturinha insignificante, já passei da idade de me preocupar contigo e com tua decepção. Na verdade me alivia saber dela. Não é meu amigo quem não gargalhou e chorou (ou prendeu o choro) comigo pelo menos três vezes. E meus amigos, na sua maioria, já desculparam de mim mais que apenas opiniões contrárias. Bom passeio pelo mundo e de graça te dou uma dica: dizer o que pensa de forma clara afasta gente oportunista e te aproxima de gente melhor.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O bem viver

Chegava no trabalho. Outro dia besta de trabalho. Quando estacionei vi o cara. Meio fora de forma, em pé na calçada, cotovelos apoiados no alto de um velho Escort metálico (daqueles que foram super "in" alguns anos depois de Cristo). Celular grudado no ouvido, alternava caretas de incredulidade e irritação. Sujeito engraçado o nosso herói. Enquanto me aproximava pensei que aquelas caretas todas podiam bem ser minhas. Identificação instantânea.  Aquelas expressões pareciam perguntar: "que mundo é esse, meu deus?", pergunta que eu mesma faço mentalmente exatas 258 vezes, todos os dias. Uns passos antes de eu passar por ele, se vira num rompante. Absolutamente chocado levanta as duas mãos bem alto como que implorando misericórdia divina.
Noto que nosso benfeitor aflito usa um relógio vistoso, quase ridículo. Daqueles prateados com fundo vermelho. Imagino de cara o figura dirigindo com o bração (e relógio) pra fora do Escort, todo pimpão.
Gruda de novo o celular no ouvido e no momento exato que passo por ele, solta quase num grito:"Olha... Se a tua vida depende mesmo de eu te emprestar esse cheque, pode começar a cavar tua cova, amigo". E desliga.
Ganas de aplaudir nosso galã. Vontade de erguer o braço do relógio bem alto, como fazem no box. Eis o campeão!
Respostas na medida que entalam na garganta. Quem nunca?
Mas não nosso herói.
Você que já catou no fundo de sua civilidade respostas educadas pra tanta gente folgada, manipuladora e sem noção, vê se aprende: compre um carro que possa pagar; assuma que o relógio que você queria mesmo ter comprado brilhava um tantinho mais, e; da próxima vez que alguém te fizer uma chantagenzinha emocional responda sem dó: pode começar a cavar!

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

22/08

Assunta é mulher que você chamaria de "comum". Chamaria, porque você assim como eu, na sua pressa, apenas pode ver o que se apresenta rápido diante dos teus olhos. Nada mais.
Então, assim de cara você veria uma mulher comum, de incomuns e profundos olhos verdes.
É que ela é como tantas outras: comumente especial.
Dizemos "comum"aquilo que não sobressai de imediato, não salta aos olhos. E frequentemente erramos confundindo o comum com desinteressante ou menos valioso.

Assunta é mulher "comum"que discute política, ama futebol e é a fã mais impiedosa do seu time do coração. É noveleira e religiosa. Assunta é mulher "comum", não é santa. Nem quer. Trabalhou em lavoura, em hospital e em salão de beleza. Assunta é costureira de mão cheia e acredita, como aquelas que vieram antes dela, que costura não é dom, é sina. É perfeccionista, o mais ou menos não lhe serve. Talvez sua característica mais comum seja que ela, como nós todas, se sente culpada boa parte do tempo. Assunta voltou pra escola adulta, terminou o segundo grau estudando a noite, trabalhando de dia e criando dois filhos. Muito antes disso, nos anos setenta, casou-se com um lindo vestido curto e vermelho. Mais que orgulho das origens, Assunta tem é saudade daqueles tempos e daquelas gentes. Assunta não gosta de cores neutras e tons pastéis. Ama flores, todas. Sabe o valor de tudo e é louca por uma pechincha. Quase que numa ironia da vida, ensina hoje outras mulheres a fazer e consertar brinquedos e doá-los. Brinquedos que também não teve.

Assunta é mulher comum. Assunta é como todas nós. Se você detiver o olhar mais um minuto, se perceber o riso discreto no cantinho da boca vai ver a menina de pés descalços fazendo de balanço a folha da palmeira, mãozinhas segurando firme, cabelinho fino voando. Tá ali ó, é minha mãe. É também um pouco de mim. Seu nome é Assunta.


terça-feira, 10 de abril de 2012

Cérebro: pecado é ter e não usar

Tô no estacionamento do supermercado, compras para o almoço garantidas, fazendo hora para pegar Marina no balet, otimizando o pouco tempo que tenho.
E pensando. Viajando na constatação da baita sorte que envolve esse quadro. Por traz dele a mensagem: a Marina está aí, e tem saúde para o balet (saúde perfeita na verdade) e, de quebra posso proporcionar esse tipo de desenvolvimento a ela, do jeito que sonhei que seria (pronto, rolou primeira lágrima): com dança, musicalização, etc.
Você pode argumentar que não se trata de sorte. É o que? Merecimento pelo meu grande esforço? Em parte  talvez. Fui escolhida? Então alguns (gente boa e esforçada) são escolhidos para os piores sofrimentos e privações? Sacanagem.
Não quero desmerecer tua crença e posso estar muito errada. Então sobre isso, paro aqui.
Porque minha verdadeira (e bem mais importante no momento) dúvida é: por que é tão difícil se colocar no lugar dos outros? Por que a dor que toca a nossa carne é que é mesmo insuportável? As outras dores são relativas, variáveis, suportáveis e condicionadas aos atos de seus possuidores.
Por que antes dos julgamentos todos não é automático em nós o seguinte raciocínio: como é estar ali? Como é viver dentro daquele corpo, com aquela forma, com aquele código ético, naquele tempo espaço. Quais as condições de ação quando se está ali e não aqui.

(Pausa. Pegar Marina. Já volto.
Em casa. Quinze minutos restantes pra essas linhas.)

Se esses questionamentos fossem um reflexo nosso diante do desconhecido, algumas polêmicas nos seriam poupadas e o que é melhor, pessoas sofreriam menos. Muito menos.

Especificamente, falo sobre a polêmica gerada sobre se a mãe de um feto anencefálico (sem cérebro) tem o direto (DI-REI-TO) de interromper sua gestação.
Não se trata do que você pensa que seja a conduta mais adequada, ou do que sua religião permite ou não. Falamos de direito. Falamos de uma mulher poder tomar por si a decisão mais difícil da vida dela, sem ter de responder por isso no judiciário.

Eu sei que você acha que só deus pode tirar uma vida e que seu conceito de vida não tem absolutamente nada a ver com o meu. Mas olha, seguindo tua lógica, deus nos deu (a nós, escolhidos) um cérebro, para pensar, para refletir sobre o bom e o justo. Nosso cérebro humano, esse danado, raciocina. E graças a esta condição, sofremos, imensamente as vezes. A Mel (minha cachorrinha) sente dor se é maltratada, mas ela não é capaz de refletir sobre aquela dor, sobre o que a causou, sobre quem a provocou, sobre a gravidade da situação que ela representa. Acredite, em se falando de dor, Mel levou vantagem.
Mas uma mulher que descobre que carrega no ventre um filho que não vai amamentar, que não vai viver com ela mais que algumas horas é capaz de pensar sobre isso. E se ela decidir que vai viver isso até o fim, que quer olhar no rosto do seu bebê ao menos uma vez, muito bem. Agora, se ela se mostrar incapaz de lidar com aquilo, se ela achar que nem ela, nem sua família devem passar por este martírio, é você que vai argumentar/decidir que ela deve? Como?

Não tenho mais tempo, hora de pegar o Carlos na aula  e improvisar um almoço. Perdoem os erros todos.

Deixo vocês com essa música que ouvi no mercado pela manhã e que me inspirou a escrever. Chorei muito nesse filme, como a maioria. A princípio não tem mesmo nada a ver com o tema. Mas fala de uma dor muito solitária. Enfim, digam vocês.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Trinta e nove voltas em torno do sol (completas)

Tá, eu adoro fazer aniversário. Adoro a chance da pequena retrospectiva do ano. Adoro os abraços, as palavras, os presentes e os carinhos todos.
Há quem não goste. Há quem diga que é deprimente contar o tempo que resta assim, quase que numa contagem regressiva para o fim. Enfim...

A verdade é que só não faz aniversário, só não ganha ruguinhas e novos cabelos brancos quem fica pelo caminho. Não, obrigada.

Deixo de presente, em retribuição a tanto afeto, essa linda canção que diz muito ( se não tudo) do que eu penso sobre o correr dos dias.

"ser novo pra mim é algo velho..."




Não vou lamentar
a mudança que o tempo traz, não
o que já ficou para trás
e o tempo a passar sem parar jamais
já fui novo, sim
de novo, não
ser novo pra mim é algo velho
quero crescer
quero viver o que é novo, sim
o que eu quero assim
é ser velho.
Envelhecer
certamente com a mente sã
me renovando
dia a dia, a cada manhã
Tendo prazer
me mantendo com o corpo são
eis o meu lema
meu emblema, eis o meu refrão
Mas não vou dar fim
jamais ao menino em mim
e nem dar de, não mais me maravilhar
diante do mar e do céu da vida
e ser todo ser, e reviver
a cada clamor de amor e sexo
perto de ser um Deus
e certo de ser mortal
de ser animal
e ser homem
Tendo prazer
me mantendo com o corpo são
eis o meu lema
meu emblema, eis o meu refrão
Eis o meu lema
meu emblema, eis minha oração
Eis o meu lema
meu emblema, eis minha oração

Lema - Ney Matogrosso para o show Inclassificáveis

terça-feira, 3 de abril de 2012

trinta e nove voltas em torno do sol (parte II)

Esse devia ser um texto para homenagear minhas amigas. Todas elas. As que ficaram apesar da vida. Aquelas em quem um pouco de mim também permaneceu. Desde aquela com quem eu pulava elástico depois da aula até aquela que ainda ontem finalizou um email bobo e sem importância com "eu te amo. muito. sempre."
Mas não saiu. Não foi. Não rolou. Ficou muito ruim, mais piegas que de costume. Indigno delas.

O que eu queria dizer é que nessas trinta e nove primeiras voltas em torno do sol foi uma baita sorte encontrá-las e caminhar, ser arrastada, correr, chorar e gargalhar ao lado delas.
Queria que elas todas soubessem (caso ainda não saibam) que houve dias que só consegui suportar porque contava com seu carinho e que cada gargalhada sonora que demos juntas ainda ecoa na minha memória me fazendo vez ou outra rir de novo. Queria ter dito que está tudo bem, que eu sei que elas ainda estão lá. Queria perguntar também se tudo bem mesmo? Se elas entendem a ausência, os esquecimentos todos.
O que eu pretendia resumir educadamente em algumas linhas é que gurias, vocês são foda. mesmo. Que este passeio pelo mundo não teria metade da graça quem tem sem a nossa cumplicidade passada, presente e futura. E que eu estou aqui, ok?!

Algumas estão aí em fotos, pra homenagear as outras.











segunda-feira, 2 de abril de 2012

dica

Olha só... Quando vc diz que "não tem nada contra gays, mas que há lugar e hora pra tudo", você está dizendo que admite que eles possam existir contanto que não se comportem como tal, exceto em suas casas. Este comentário não faz de você "um cara legal e  compreensivo". Uma dica: ADMITIR a existência de outras orientações sexuais que não a sua, não te compete.

Dizer que alguém pode fazer o que quiser na cama, mas não tem nada que ficar "dando pinta em público" não te dá pulseirinha vip para o século XXI, meu caro, e nada mais é que negar o direito de alguém de falar com a própria voz, mover-se com seus trejeitos característicos, vestir-se segundo seu gosto pessoal e manifestar seu afeto publicamente. E se direitos assim tão elementares fossem retirados de ti?

Fico pensando o que realmente te incomoda. Suspeito que você ande se sentindo meio acuado, vendo o mundo girar nessa velocidade e cada vez menos gente fazendo eco da tua fala. Sinto uma pena que não consigo controlar quando você, em desespero de causa aponta pra alguém com idade mental muito superior a tua e diz sem corar: "veja bem, há crianças aqui. É preciso ter bom senso".

Eu poderia tentar aliviar teu coraçãozinho tão sinceramente preocupado com o futuro do mundo e te contar em primeira mão que crianças não aprendem homossexualismo e que são na verdade mais preparadas pra lidar com isso que você, mas sabe, a verdade, a verdade mesmo é que você e sua conversinha me dão além da pena e de um pouco de enjoo, uma preguiça medonha.


sexta-feira, 30 de março de 2012

Pra não dizer que não falei de ti

A você, perfeita criatura, sempre com o dedo em riste pra não deixar escapar nenhum pecado (dos outros);
ao “profissional” que teve a grande sacada de deixar de lado o ofício em si e passou a se dedicar a arte de lamber sacos; 
ao vizinho amargurado que odeia música, crianças, cachorros e “aqueles barulhos de noite”; 
ao chefe inseguro e pouco competente que está neste exato momento se equilibrando como pode sobre os pescoços de seus prepostos; 
a você mau político que ainda não decorou a sigla de seu novo partido mas vai gastar MINHA GRANA neste findi; 
a você que (colonizado até o último fio de cabelo) sinceramente acredita que tua cor, teu sexo ou teu dinheiro te faz melhor que alguém; 
a você que se ocupa arduamente de vidas que não a sua e que acredita piamente que nosso gramado é mais verde e que isso não é justo; 
a vocês todos um lindo final de semana, visse?!
E deixa eu explicar, não é que a gente do lado de cá (sim benzinho, são lados opostos) não perceba a tua presença. A gente apenas não se ocupa dela além do estritamente necessário.

Então, bom findi. Porque olha... Você tá precisando mais.


quarta-feira, 28 de março de 2012

trinta e nove voltas em torno do sol (parte 1)

Gestante linda em início de gravidez me perguntou outro dia quanto tempo meu corpo levou pra voltar ao normal depois dos partos dos pequenos. Menti, óbvio. Sem remorso. Situações que nos forçam a mentir, por certo também devem nos absolver, pois não? 

A modalidade da mentira utilizada no caso foi a da "mentira por simplificação". Quando a "toda a verdade" é densa demais para o momento ou chatinha de explicar, a gente pode (deve, na verdade) optar por uma simplificação desta, não esquecendo que tal resuminho implica em nada mais do que a aqui descrita "mentirinha por simplificação" uma vez que acaba por ocultar o cerne da coisa, se é que me entendem. Em consulta ao oráculo Google descobri, para minha humana alegria, que esta categoria de mentira não chega, em regra, a ser considerada uma "mentira deslavada" ou uma "falsidade sem vergonha", títulos que arrastariam seus autores para as profundezas. Não. De fato, é considerada por renomados cientistas teólogos como sendo nada mais que um pecadinho. Seu correspondente em uma infração de trânsito por exemplo, seria o de estacionar em vaga proibida.

"Ah... em um ano estava tudo mais ou menos igual." Desconversei.

Se toda a verdade fosse oportuna, eu olharia diretamente nos seus lindos olhos brilhantes e responderia serena: "Nunca. Nunquinha, entende meu bem?!" Vê bem: se nada, NA-DA mais vai ser como antes, porque o corpo deveria? Se uma vida nova se inaugura diante da gente, porque não novas curvas (ou, vá lá, dobrinhas). 
Embora as medidas (e imagino que se referia a elas) possam voltar ao mesmo ponto (e não foi meu caso), a verdade é que a gente nem chega a se lembrar novamente como eram as coisas antes da maternidade e nunca mais nos vemos da mesma forma. 

Como todo o resto, divertir-se vai depender da nossa disposição.

A gente pode passar o resto da vida olhando fotos que nos espanam na cara como nossa cintura era fininha e nosso rosto tão lisinho. Decidir que a gente vai se parecer com elas por todo o tempo que nos for possível, custe o que custar.
Ou...
Tirar novas fotos e resolver que a cada nova fase da vida a gente vai merecer novas poses, roupas novas em novos tamanhos e cores.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Um post de adeus

Em noventa e cinco por cento dos dias, de dezembro (início oficial do verão, ainda trabalhando) até a semana passada (quando acabaram minhas férias) os pisantes foram esses. Pra quase tudo.
Teve um dia que não. Eu lembro. O “dia da fonte”. O dia da fonte daria uma boa história, mas levaria o que me redta de dignidade.
Mas nos dias mais felizes eram sempre eles: os chinelos.

Mas o mundo girou, o verão se foi e agora estamos aqui, vivendo os dias da despedida. Da despedida não, do até breve.


quinta-feira, 22 de março de 2012

Novas tecnologias, velhos preconceitos

Terminei ontem a leitura do primeiro livro no celular.
Ao contrário do que imaginava, trata-se de uma leitura bem confortável.
Se a gente dispuser de um aparelho com a tela grandinha acaba tendo mesmo várias vantagens em relação aos livros impressos: pode-se ler em qualquer lugar e com qualquer (ou nenhuma) luminosidade, vai com a gente pra todo canto sem ocupar espaço algum e é mais prático e leve para segurar durante a leitura.
O ponto negativo é o consumo da bateria e os ainda poucos (mas nem tão poucos) títulos disponíveis.
Mas no geral, gostei bastante.

As férias de fevereiro seriam, por si só, uma excelente desculpa para a escolha da obra “Férias”, da irlandesa Marian Keyes, menos pelo título sugestivo e mais pelas características que permeiam as obras da autora: textos leves e engraçados retratando heroínas pra lá de “humanas”.
A verdade porém é que no último ano, as leituras ditas menos densas têm sido as minhas favoritas. Tanto é assim que leio todos os livros que compro para os pequenos: “Desventuras em série”, “Como treinar seu dragão”, “Querido diário otário”... E.adoro.

Mas “Férias” me surpreendeu para o bem no sentido de não ser tão “bobinho” quanto desenhavam minhas expectativas. Bem escrito e super bem enredado, contando as aventuras de uma toxicômana em um centro de reabilitação. Na verdade, trata da conquista da autoestima e do amadurecimento.
Recomendo.

Ps.: aplicativo novo, post escrito do celular.  :P


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O vento

Abri cedo as janelas de casa. Sol lindo e um vento fazendo tudo dançar à minha frente. Nada frenético, uma dancinha tranquila, um balancinho só de quadril, sabe? Meu café da manhã foi assim, preguiçoso, vendo tudo dançar lá fora.
Na net vi esse vídeo falando de um vento mais forte, o vento da mudança.
Que os ventos continuem soprando a nosso favor. Mais calmos ou mais agitados, dependendo da demanda e do tamanho da batalha.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Desejos militantes de ano novo.

Sabem que ingredientes penso que seria prudente incluir nessas infindáveis (boas) "receitas para um feliz ano novo"? Um tantinho menos de patrulha, e um pouquinho mais de habilidade quando das defesas realmente necessárias.

Menos patrulha nos livraria dos constrangedores discursos inflamados sobre temas que francamente, não tem a relevância que se tenta atribuir a eles. Apenas como exemplo: Não gosta de sertanejo, sorte sua e do seu vizinho, não ouça. Não suporta BBB, não assista ( não vale ler resumo do dia no site). Mas por favor, não passe pelo constrangimento de diminuir quem difere e tentar convencer o mundo que seus gostos (evoluidíssimos) te fazem realmente melhor, mais politizado, mais culto ou menos sanguinário. Não. É claro que você pode (não é obrigado) manifestar sua preciosa opinião, apenas evite o tom mais arrogante e sacerdotal, é embaraçoso. Durante muito tempo da nossa história tentaram nos dizer o que ouvir, ver, ler, comer, sentir. Acho que já chega. Quem se inflama em debates doutrinadores do viver dos outros, não raramente demonstra dificuldade em se aprofundar no entendimento e debate do que realmente importa.

E há sem dúvida aquilo sobre o que não se deve calar, mesmo. Assuntos que precisam ser debatidos porque custam a vida de outros seres humanos. Há a exploração de quem trabalha, a retirada sistemática de direitos relevantes, há o machismo matando todos os dias, a homofobia, o racismo, a xenofobia, há projetos de sociedade que precisam ser debatidos e há espaços menos rasos para fazê-lo que o seu Facebook. Mas para estes debates, é preciso se armar. Não apenas procurando entender de fato o que se passa, mas buscando a melhor forma para que o debate realmente ocorra e que, de preferência, seja possível convencer alguém além do espelho.

De minha parte, meus votos de ano novo neste campo são os mesmos do ano passado (e que me fizeram tão feliz em 2011): não debato se não identificar a relevância (no tema e no debatedor). Penso que tenta esgotar debates complexos e relevantes no Facebook e no Twitter quem ainda não encontrou os espaços apropriados para fazê-lo, não é meu caso. Não tenho (mesmo) a menor pretensão de ter a última palavra em nada. E não pretendo prescindir de uma boa risada de vez em quando.




Escusas pela demora

Perdão pela demora, mas os dias nascem e se vão nesse ritmo que mais parece um embalo de rede e realmente... não sobra muito tempo. Não é desculpa, eu sei. Gente mais feliz e ocupada que eu escreve o tempo todo. Mas quer saber? Me deixa. Minha desorganização não é mais segredo nem tampouco me constrange. Façamos assim... de vez em quando, no final de um domingo em que eu durma quase o dia todo e que uma insônia qualquer me apanhe pra me lembrar com muita azia de todas as delícias gordurentas e saturadas que eu comi, a gente coloca a conversa em dia. Pode ser?
Ps.: Feliz ano novo!