segunda-feira, 4 de julho de 2016

(re)trato

E se a gente combinar que eu vou fazer só o que dá? Nem uma gota a mais de suor, um minuto além da minha pouca concentração?
E se eu agora passar a te responder que não? Agora não. Não tão rápido.
E se eu desligar o piloto automático e você tiver que conviver (ou não) com o meu ritmo instável e reflexivo?
E se eu me assumir assim e pronunciar a frase: "não consigo agora", cheia de orgulho, como quem diz "gabaritei em química"?
E se não ser a favorita do mês não me causar sentimento algum?
E se quando você flamejar insinuando me substituir eu sorrir com o cantinho da boca?
Vamos supor que eu erga um pequeno altar em homenagem a imensa preguiça que você me desperta e resolva passar o dia lá enquanto você arranca os cabelos.

A verdade é que teu olhar de reprovação, teu discurso sobre cooperação e empenho me transpassam enquanto te olho com cara de paisagem e penso na boca que eu quero beijar.
Enquanto você me fala dos prazos e de como eles mantêm a terra na sua órbita, eu ouço nitidamente o barulho das ondas quebrando e da risada escandalosa da minha tribo.
Se eu respirar fundo, saiba, não é  pra te suportar, estarei lembrando do cheiro gostoso que tem o abraço do meu melhor amigo.
Vou revirar os olhos e você vai pensar que eu não suporto mais te ouvir. E eu nem suporto mesmo. Mas prometo que se você não perguntar eu não conto que eu estou, na verdade, relembrando um orgasmo da noite passada, longe, muuuito longe dessa sala.
Tem uma parte de mim que você até compra sim, só que (surpresa!), toda vez que você tentar me reduzir à uma engrenagem eu vou explodir numa gargalhada insana e inconveniente. Talvez você nem ouça. Pouco importa. Essa sou eu repetindo pra mim: Não permito.