domingo, 14 de setembro de 2014

carta pra você que está ficando menor

Adoro seu mimimi de que o mundo tá chato e já não se pode rir de quase nada. Adoro. É bem cínico mas eu acho graça. 
É cômico assistir seu desespero quando você lembra os bons tempos em que podia humilhar negros, debochar de gays, rir de mulheres gordas ou loiras e isso era considerado socialmente aceito. Era humor. Era unânime. Me retorço de vontade de rir na tua cara porque você e eu sabemos que esse tempo passou. Irremediavelmente. 
Agora toda vez que você chama um negro de macaco tem alguém filmando e outro alguém pra considerar aquilo nojento. Sempre que você abre sua revista semanal há outra notícia de casais gays se amando, sendo felizes, criando filhos e alcançando direitos que eram só seus. Daqui a pouco, logo ali, escrachar esses casais e promover ódio contra eles vai ser crime também. Que droga, hein? 
E nós, mulheres abusadas? A gente não para de encher o teu saco né? A gente insiste em destruir teu mundinho onde tudo funcionava tão bem. Não aceitamos mais tuas violências. Nenhuma delas. Você não pode mais me bater, NINGUÉM mais acha isso tão normal quanto você gostaria. Você não pode mais fazer sexo comigo desacordada, não pode mais me bolinar no ônibus, se você me disser grosserias na rua, ao invés de abaixar a cabeça, vou levantar meu dedo médio. Estou cada vez menos preocupada com o que você pensa sobre qualquer coisa.
Talvez nem você saiba o que é que te desinquieta tanto, mas eu sei. 
O que te assusta e te torna tão patético é a absoluta certeza de que nunca mais o mundo voltará a ser como foi. Os negros e negras não vão nunca mais se contentar em existir nos guetos da cidade, vão disputar tuas vagas, teus empregos e vão querer salários tão bons quanto o teu. Cada vez mais casais do mesmo sexo vão se sentir mais a vontade e mais seguros para amarem em público, exatamente como você faz. Nós mulheres (negras, lésbicas, trans, idosas e meninas) continuamos estudando e focando em objetivos e horizontes tão ou mais ambiciosos que os teus.
E é por isso que eu continuo com esse sorriso de cantinho de boca que você odeia. 
Mesmo quando um menino gay morre estrangulado em um matagal, quando alguém é ofendido publicamente por sua cor, quando uma mulher trabalhadora e inteligente é morta a tiros por alguém que acredita ser seu dono, mesmo ali com todo o nojo, dor e revolta eu quase tenho pena de você que relativiza a violência sofrida por eles. Que tenta "explicar" que a vítima teve sua parcela de culpa ou que não foi tão grave assim.

Cá entre nós, seu idiota: Eu sei e você sabe, o mundo está mudando rápido e cada vez vai haver menos de você e mais de nós.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Mais doce que amargo.

Pois é. Saí pra comprar cigarro (sabe deus pra que já que eu não fumo) e acabei ficando dois áridos anos sem voltar. Criei outro blog, não rolou. Não foi. Ficou estranho. Tentei delimitar, focar. Como se isso fosse possível pra mim.
Voltei. O "Ao Leite" voltou. Mas mudou. Cês tão vendo, né? Tá limpinho. Tirei um relógio em forma de chaleirinha, um cachorrinho com nome de Cusco com o qual era possível brincar e um monte de links para blogs igualmente abandonados. A lista pretendo refazer assim que sobrar um tempinho. Mas vem cá... Quem era essa mulher com esse blog cheio de "coisinhas fofinhas"? Graças aos deuses pela chegada dos quarenta (e um).
Ah! Pasmem, tirei também o link da minha conta no Orkut. Tava uma tapera esse bloguinho.
E que burra... Fiquei tão assustada quando vi aquele endereço ainda ali parecendo uma camada grossa de poeira que corri deletar. E lá se foi a última chance de resgatar algumas fotos. A senha eu não sei mais. Azar. Nem tô.
Dizem que ninguém mais lê blog. Vai saber.
Enfim... cá estamos. Mais doces que amargos.
Apareçam.