quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Uma ofegante epidemia


- Moço, o senhor viu pra que lado foi o bloco com camisetas iguais a essa?

- Você perdeu um bloco inteiro, foi?

Dito assim, soou mesmo engraçado. Era isso. Estava lá, na maré obrigatória de euforia, mostrando a quem passasse o quanto era saudável, adequada e irremediavelmente feliz. E no instante seguinte, todos tinham sumido. A prima, sua única referência naquele lugar, havia desaparecido levando com ela o amigo insuportável, com jeito de esnobe nativo e tarado convicto.

- Pro senhor ver...

- Carnaval é assim, filha. - O vigia do banco consolou com uma gotinha doce de nostalgia na saliva Foram em direção à rua da praia. Passaram faz uns dez minutos.

Dez minutos? Sério? Não podia ter se "ausentado" por tanto tempo. Lembrava de estar bebendo alguma coisa num imenso copo de plástico. Ainda sentia o cheiro forte de cachaça e um gosto muito açucarado na boca.

Uma construção, um velho casarão restaurado com janelas quadriculadas e uma viva pintura, tinha chamado sua atenção. Decidiu sentar num banquinho em frente a ele talvez para admirá-lo. Não... Foi pra descansar. E pra se livrar daquele copo.

Respirou um pouquinho, pelo que se lembrava.

O namorado foi embora, e pensando nos motivos dele ela queimou três fornadas seguidas. A rua toda ficou sem pão quente naquele dia. 

Quando se viu também sem emprego, tentou cancelar a viagem. Precisava tanto das suas coisas. Suas almofadas, seu cachorro, os cheiros de sua casa, o barulho familiar dos vizinhos.

Já não dava mais tempo. A prima que esperava o casal o mês todo, argumentava agora que não havia lugar nem oportunidade melhor pra esquecer os problemas. Assim chegara até ali.

 - Até o bloco eu perdi! Pensou em voz alta e achou aquilo ainda mais engraçado.

De longe já podia vê-los. Até da lua se poderia ver camisetas naquele tom histérico de amarelo. Não estava certa que conseguiria. A música, aquela bebida horrível... Pensava se mais alguém ali estaria forçando tanto o riso quanto ela.

Já estava bem perto.

Sua prima sorriu tão aliviada que pareceu cruel não retribuir o carinho.

-  Meu Deus, você tá aí! Que houve?

- Parei pra descansar! Gritou gesticulando.

- Quer ir pra casa? Eu imagino como você deve estar...

- Então, alguém imagina. Ou pelo menos se esforça pra imaginar...Taí uma informação valiosa. - Disse pra si, um tanto aliviada.

A praia estava logo ali. O amigo insuportável tinha sumido e dava pra ver não muito longe uma barraquinha onde se lia "Cerveja Gelada R$5,00". Uma pichincha de carnaval.

- Quero não. Mas segura minha mão pra eu não ficar pra traz outra vez.

Pulou até o sol nascer.

Dormiu até de tardinha.

Quase morreu de dor de cabeça.

Tomou Tylenol e um sopão indecifrável.

Começou tudo de novo.