sexta-feira, 16 de abril de 2010

O plano


Eu não lembro muita coisa dele. Eu tenho péssima memória, vocês sabem. Na verdade eu nem tenho certeza de que tenha realmente havido um plano.

Mas lá pelo dezesseis anos a maioria de nós tem opiniões muito firmes a respeito de quase tudo (geralmente amparadas no nosso vasto conhecimento do mundo), medos e uma penca de complexos (tem, né? Ou foi só comigo?). E nesta base sólida (opiniões firmes/limitadas+medo+complexos infindáveis) a gente acaba traçando um plano de como será nossa vida.

Com dezesseis anos eu pesava em torno de quarenta quilos e, óbvio, odiava meus joelhos e minha boca (imensa!). Pouco envolvida com as causas humanitárias e livre de preocupações com minha subsistência, meu maior medo era mesmo nunca chegar a pesar cinquenta quilos.

O plano original era mais ou menos esse:

-Nunca me afastar do mar (porque nesta época eu morava em Floripa);

-Cursar engenharia civil (estudava em escola técnica e achava linda aquela parafernalha que o pessoal de Edificações carregava no ônibus);

-Cortar os cabelos assim que fizesse 25 anos (tinha gente que dizia que eu não engordava por culpa do cabelo que "roubava" minhas vitaminas. Eu sabia que aquilo era absurdo. Mas se eu chegasse aos 25 com aqueles joelhos, valeria a tentativa);

-Ter somente filhos adotivos (??? não lembro da justificativa desse);

-E... Casar com o Humberto Gessinger. Na verdade acho que o plano era só esse. Eu já tinha ido a uns dois shows do Engenheiros e estava decidida. Questão de tempo. Apenas o necessário para tomar um pouco mais de peso e surgir a oportunidade de nossos olhares se cruzarem de forma que ele pudesse me reconhecer (escrita que estava no seu destino ele certamente me reconheceria).

Um ano depois eu já estava bem longe do mar. Me ocorreu na época do vestibular que alguém que NUNCA conseguiu ser aprovada sem recuperação em matérias como matemática e física, talvez devesse tentar carreira na área de humanas. Cheguei aos 25 com menos de cinquenta quilos ainda (49 para ser exata) mas os joelhos já estavam muito melhores. Tive meus dois filhos da forma convencional mesmo. E não casei com Humberto Gessinger. Na verdade, uns três anos depois de sair de Florianópolis vi uma entrevista dele em seu apartamento. Ao fundo, uma bandeira do Grêmio tomava a parede toda. Bastante consolada, convenci-me que não seria uma convivência nada fácil a nossa.

Hoje com menos certezas, menos complexos (58 kg), quase o dobro do cabelo e seguramente mais medos, abandonei de vez o plano de ter um plano. E quanto mais me distancio dele, mais segura fico de estar no caminho certo.





E com desejos de que vocês tenham todos um final de semana de grandes e pequenas surpresas felizes...

Deixo para vosso deleite meu ex-futuro-marido, Humberto Gessinger, tricolor :( e Duda Leindecker, Colorado :), em um vídeo bem amador de uma apresentação do projeto Pouca Vogal ("a menor banda de rock do Rio Grande").
Dentre tantas canções do Engenheiros que eles interpretam com lindos e novos arranjos, acabei ainda ficando com essa do Cidadão Quem, minha preferida do show.

5 comentários:

Nani Binder disse...

KKKKK....

Sabe que eu fiquei imaginando?

Como ficaria a escova de cabelo de vocês?
Digasse de passagem...duas senhoras cabeleiras!

Bjo =)

Liliane Araujo disse...

É amada... Não ia dar certo mesmo, rsrsrs

Fantasma disse...

Gostei do plano, alias eu tbm tinha um plano, era perfeito, mas sabe como é.
A gente cresce, amadurece e vê que muitas vezes sonhamos com um impossível, porém fácil de se viver (no nosso mundo), aquele mundo feito por nós e que só nós podemos viver intensamente. rsrsrs.
boa semana.

Anônimo disse...

Aaahh, os planos da adolescência!
Cada coisa que a gente imaginava, né? Adorei teu texto. Me fez ter um daqueles mega flashbacks pros meus 16 anos. De vez em quando é bom dar essa paradinha! :-)
bjk
Mônica

andrea dutra disse...

planos, não faço nem pra amanhã. Amanhã é tarde ;) bj