Tô no estacionamento do supermercado, compras para o almoço garantidas, fazendo hora para pegar Marina no balet, otimizando o pouco tempo que tenho.
E pensando. Viajando na constatação da baita sorte que envolve esse quadro. Por traz dele a mensagem: a Marina está aí, e tem saúde para o balet (saúde perfeita na verdade) e, de quebra posso proporcionar esse tipo de desenvolvimento a ela, do jeito que sonhei que seria (pronto, rolou primeira lágrima): com dança, musicalização, etc.
Você pode argumentar que não se trata de sorte. É o que? Merecimento pelo meu grande esforço? Em parte talvez. Fui escolhida? Então alguns (gente boa e esforçada) são escolhidos para os piores sofrimentos e privações? Sacanagem.
Não quero desmerecer tua crença e posso estar muito errada. Então sobre isso, paro aqui.
Porque minha verdadeira (e bem mais importante no momento) dúvida é: por que é tão difícil se colocar no lugar dos outros? Por que a dor que toca a nossa carne é que é mesmo insuportável? As outras dores são relativas, variáveis, suportáveis e condicionadas aos atos de seus possuidores.
Por que antes dos julgamentos todos não é automático em nós o seguinte raciocínio: como é estar ali? Como é viver dentro daquele corpo, com aquela forma, com aquele código ético, naquele tempo espaço. Quais as condições de ação quando se está ali e não aqui.
(Pausa. Pegar Marina. Já volto.
Em casa. Quinze minutos restantes pra essas linhas.)
Se esses questionamentos fossem um reflexo nosso diante do desconhecido, algumas polêmicas nos seriam poupadas e o que é melhor, pessoas sofreriam menos. Muito menos.
Especificamente, falo sobre a polêmica gerada sobre se a mãe de um feto anencefálico (sem cérebro) tem o direto (DI-REI-TO) de interromper sua gestação.
Não se trata do que você pensa que seja a conduta mais adequada, ou do que sua religião permite ou não. Falamos de direito. Falamos de uma mulher poder tomar por si a decisão mais difícil da vida dela, sem ter de responder por isso no judiciário.
Eu sei que você acha que só deus pode tirar uma vida e que seu conceito de vida não tem absolutamente nada a ver com o meu. Mas olha, seguindo tua lógica, deus nos deu (a nós, escolhidos) um cérebro, para pensar, para refletir sobre o bom e o justo. Nosso cérebro humano, esse danado, raciocina. E graças a esta condição, sofremos, imensamente as vezes. A Mel (minha cachorrinha) sente dor se é maltratada, mas ela não é capaz de refletir sobre aquela dor, sobre o que a causou, sobre quem a provocou, sobre a gravidade da situação que ela representa. Acredite, em se falando de dor, Mel levou vantagem.
Mas uma mulher que descobre que carrega no ventre um filho que não vai amamentar, que não vai viver com ela mais que algumas horas é capaz de pensar sobre isso. E se ela decidir que vai viver isso até o fim, que quer olhar no rosto do seu bebê ao menos uma vez, muito bem. Agora, se ela se mostrar incapaz de lidar com aquilo, se ela achar que nem ela, nem sua família devem passar por este martírio, é você que vai argumentar/decidir que ela deve? Como?
Não tenho mais tempo, hora de pegar o Carlos na aula e improvisar um almoço. Perdoem os erros todos.
Deixo vocês com essa música que ouvi no mercado pela manhã e que me inspirou a escrever. Chorei muito nesse filme, como a maioria. A princípio não tem mesmo nada a ver com o tema. Mas fala de uma dor muito solitária. Enfim, digam vocês.
E pensando. Viajando na constatação da baita sorte que envolve esse quadro. Por traz dele a mensagem: a Marina está aí, e tem saúde para o balet (saúde perfeita na verdade) e, de quebra posso proporcionar esse tipo de desenvolvimento a ela, do jeito que sonhei que seria (pronto, rolou primeira lágrima): com dança, musicalização, etc.
Você pode argumentar que não se trata de sorte. É o que? Merecimento pelo meu grande esforço? Em parte talvez. Fui escolhida? Então alguns (gente boa e esforçada) são escolhidos para os piores sofrimentos e privações? Sacanagem.
Não quero desmerecer tua crença e posso estar muito errada. Então sobre isso, paro aqui.
Porque minha verdadeira (e bem mais importante no momento) dúvida é: por que é tão difícil se colocar no lugar dos outros? Por que a dor que toca a nossa carne é que é mesmo insuportável? As outras dores são relativas, variáveis, suportáveis e condicionadas aos atos de seus possuidores.
Por que antes dos julgamentos todos não é automático em nós o seguinte raciocínio: como é estar ali? Como é viver dentro daquele corpo, com aquela forma, com aquele código ético, naquele tempo espaço. Quais as condições de ação quando se está ali e não aqui.
(Pausa. Pegar Marina. Já volto.
Em casa. Quinze minutos restantes pra essas linhas.)
Se esses questionamentos fossem um reflexo nosso diante do desconhecido, algumas polêmicas nos seriam poupadas e o que é melhor, pessoas sofreriam menos. Muito menos.
Especificamente, falo sobre a polêmica gerada sobre se a mãe de um feto anencefálico (sem cérebro) tem o direto (DI-REI-TO) de interromper sua gestação.
Não se trata do que você pensa que seja a conduta mais adequada, ou do que sua religião permite ou não. Falamos de direito. Falamos de uma mulher poder tomar por si a decisão mais difícil da vida dela, sem ter de responder por isso no judiciário.
Eu sei que você acha que só deus pode tirar uma vida e que seu conceito de vida não tem absolutamente nada a ver com o meu. Mas olha, seguindo tua lógica, deus nos deu (a nós, escolhidos) um cérebro, para pensar, para refletir sobre o bom e o justo. Nosso cérebro humano, esse danado, raciocina. E graças a esta condição, sofremos, imensamente as vezes. A Mel (minha cachorrinha) sente dor se é maltratada, mas ela não é capaz de refletir sobre aquela dor, sobre o que a causou, sobre quem a provocou, sobre a gravidade da situação que ela representa. Acredite, em se falando de dor, Mel levou vantagem.
Mas uma mulher que descobre que carrega no ventre um filho que não vai amamentar, que não vai viver com ela mais que algumas horas é capaz de pensar sobre isso. E se ela decidir que vai viver isso até o fim, que quer olhar no rosto do seu bebê ao menos uma vez, muito bem. Agora, se ela se mostrar incapaz de lidar com aquilo, se ela achar que nem ela, nem sua família devem passar por este martírio, é você que vai argumentar/decidir que ela deve? Como?
Não tenho mais tempo, hora de pegar o Carlos na aula e improvisar um almoço. Perdoem os erros todos.
Deixo vocês com essa música que ouvi no mercado pela manhã e que me inspirou a escrever. Chorei muito nesse filme, como a maioria. A princípio não tem mesmo nada a ver com o tema. Mas fala de uma dor muito solitária. Enfim, digam vocês.