A mulher que juntamente com dois de seus filhos ficou presa dentro de sua casa em poder de um foragido, estava hoje pela manhã na Globo. Inquietantemente serena.
Questionada várias vezes sobre como se sentia, sobre o medo e a revolta, jogou um balde de água fria no sensacionalismo pretendido. Evidente que teve medo. De quê? Ora... Que pergunta! De morrer. De perder os filhos. Dã!
Sobre a impressão que tivera do homem que invadiu sua casa, disse que parecia alguém que não teve muitas oportunidades, que falava muito da mãe, e de uma filha também. Que se comprometeu desde o início a não fazer mal à ela ou aos seus filhos. Que dizia só querer fugir. Ou morrer.
Quando ficou claro que não haveria o aguardado romper em lágrimas, que a mãe de família não faria nenhum brado clamando pela punição dos culpados, por leis mais severas para os delinqüentes já a partir da pré-escola, a apresentadora tratou de endeusar sua atitude tão repleta de capacidade de perdão. Enquanto isso, eram mostradas imagens do homem algemado e de sua extensa ficha criminal, como que a dizer: ‘Não se enganem, telespectadores. Trata-se sim de um bandido, sem sombra de dúvida.’
Como é incômodo quando pessoas assim nos falam. Como dói quando alguém de quem se espera choro e ranger de dentes, ousa insinuar que o cara pardo, ignorante, ladrão, assassino, miserável é, antes de qualquer coisa um ser humano, feito do mesmo material que a indignada apresentadora (exceto talvez pelo Botox) ou qualquer um de nós. Que ódio! Alguém vir à público dizer que um sujeito desse tem mãe (que pra piorar deve parecer com a nossa) e que ele pensava nela.
Não vêem que essas constatações nos deixam a cabeça confusa. Que um gosto muito amargo vem até a garganta quando nos jogam na cara que não somos (infelizmente) reféns completamente alheios e impotentes do ‘mundo do crime’.
Isso de o mundo (do crime, do trabalho, globalizado, miserável) ser um só, por mais injusto e desigual que o façamos; isso de tudo estar relacionado de forma tão estreita, de fazermos (TODOS) parte do problema e de qualquer solução, francamente, é um saco mesmo. Não tem mocinho x bandido então? Um redentor em um cavalo branco, nem pensar?! Como diria um antiquíssimo mestre: Que maçada!
Perguntada se gostaria de falar algo ao tal homem que provavelmente a estaria assistindo lá de dentro do presídio, disse que estava grata por ele ter honrado o compromisso de não fazer mal a sua família, e que esperava que ele conservasse a esperança.
Esperança? Pra ele? Sei não. Tomara.
Mas ver o equilíbrio e a compaixão brotarem onde menos se espera, é sempre um estímulo para mantê-la.
Em frente.
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