quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Normalidade

Uma avó entrega seu neto a alguém que, segundo seus critérios, tem mais condições de criá-lo. Trata-se de um bebê recém-nascido. Quase um ano se passa. A criança está bem. Os novos pais decidem regularizar a situação. Ingressam na justiça, que lhes concede a guarda da criança com base no laudo psicossocial. Tudo normal, não?
A pessoa a quem o pequeno foi entregue é um transexual.
O Ministério Público recorre. Ganha. A criança vai para o abrigo.

Diz o promotor: "...esta criança tem de ter uma família convencional, ser criada por um pai e uma mãe. Imagine como ela ficará revoltada ao descobrir que foi criada por uma família anormal"

Sabe aquelas pessoas impermeáveis à vida? Passam pelo mundo, pelas mais variadas experiências, conhecem tanta gente, aprendem outros idiomas, caem, levantam (ou são erguidas) e, mesmo assim não sorvem uma única gota de vida.
Com boa parte do caminho já feito, ainda arrastam consigo bandeiras esfarrapadas da normalidade, pois somente nessa Terra do Nunca é que gente de compreensão tão débil se sente segura. Assustadoras, não?

A íntegra da notícia aqui.

2 comentários:

Filipe Duarte disse...

É realmente assustador ver isso. A declaração do MP de que não há condições morais, sociais e psicológicas para que essa criança seja criada é uma "camuflação", na minha opinião, da própria postura do
promotor.

Como essa criança vai se revoltar, se a educação, o amor, o cuidado, vai ser dada por essa nova família? A condição de transexual vai diferenciar em quê no desenvolvimento desta criança, se provavelmente ela crescerá sabendo que seus país não são o padrão? E isso sem contar que esta criança não viverá numa bolha, ela vai crescer e compartilhará o mundo com pessoas diferentes ao seu redor o tempo todo.

E tem outra: com tantas crianças em orfanatos neste país e ainda o MP me vem com esse tipo de discurso?

É realmente revoltante ver essa gente (o promotor da Infância e da Juventude de São José do Rio Preto, Cláudio Santos de Moraes) que "passa pelas mais variadas experiências, conhecem tanta gente, aprendem outros idiomas, caem, levantam (ou são erguidas) e, mesmo assim não sorvem uma única gota de vida".

Liliane Araujo disse...

Como se as relações (e humanos)'heteronormais' assegurassem, por essa condição, um desenvolvimento sadio a quem quer que seja, né Lipe? Ô dó.