Vovó olhava desconsertada a fatia de bolo que derrubara. Ninguém agora, com certeza, prestava a menor atenção naquela porção de glacê no chão.
Poderia estar acontecendo? Seria sonho? Cada passo dele nos dizia que não.
Talvez, diante de uma situação tão surreal a ação mais esperada fosse essa mesmo, tentar fazer tudo um pouco mais natural.
Porém, quando finalmente puxa o fôlego e se levanta da velha poltrona coberta com a manta de crochê, aquela mulher parece absolutamente serena.
Estendendo as mãos, ela toca o rosto do filho que perderá já criado, homem feito. É ele. O mesmo sorriso de olhos marejados. Nada mudou, nenhum traço, nem uma única marca daquele acidente estúpido que o havia tirado de todos. Não envelheceu um único dia. Nem se curou de suas mazelas. Em uma das mãos ainda lhe falta o dedo mínimo e é questão de tempo até que ele mesmo tome a iniciativa de alguma piada a respeito.
Todos estão agora cheios de perguntas: Mas como é possível? Onde você esteve? Enganou a todos? É um anjo? Viu alguém?
- Alguém me passa o telefone.
- Quem acreditará?
- Tantas coisas pra te contar...
- A empresa faliu.
- Que pena seu pai não estar aqui.
- Você já é avô, sabia?
Agora, todos sentados conforme a possibilidade, cada um dá um jeitinho de ficar próximo dele, do seu olhar. Mais e mais gente vem chegando. Nem percebemos o cair da tarde.
Eu também estou ali. Finalmente consigo tocá-lo. Quero contar que tenho filhos e que são tão lindos. Que fiz coisas que eu não sabia que seria capaz, e que meus argumentos, talvez apenas ele pudesse entender.
Mas depois. Não agora. Agora me basta contemplar a felicidade de todos nós.
4 comentários:
... e eu odeio quando me fazem chorar no trabalho...
Beso, cariño.
Lindo conto, lindo sonho.Onde quer que ele esteja, tem orgulho de você.
Beijos
Bjoca, amada. Brigadim.
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